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Resenha dupla | Festa no Covil e How To Order the Universe
Esse ano estou com uma meta de ler mais histórias de autores latinoamericanos, meta que levou uma barrigada no meio do ano, mas ainda está na ativa e hoje resolvi trazer duas resenhas juntas de autores diferentes, por conta de ambas serem histórias curtas e terem crianças narrando.
Festa no Covil do autor mexicano Juan Pablo Villalobos é narrado por um menino filho do chefão do narcotráfico, enquanto How to Order the Universe (existe a versão brasileira com o nome Kramp, pela editora Moinhos) da autora chilena Maria José Ferrada é narrada por uma menina que acompanha o pai que é um caixeiro viajante durante a ditadura de Pinochet.
Autor: Juan Pablo Villalobos
Tradução: Andreia Moroni
Editora: Companha das Letras
Páginas: 96
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse: O romance de estreia de Juan Pablo Villalobos é surpreendente em muitos sentidos. Breve e incisivo ao revelar a face mais violenta da realidade (não apenas) mexicana sob uma ótica insólita, entra no cânone da narcoliteratura sem ceder aos tiques próprios do subgênero.Em Festa no covil, a vida íntima de um poderoso chefe do narcotráfico - Yolcault, ou “El Rey” - é narrada pelo filho. Garoto de idade indefinida, curioso e inteligente, o pequeno herói, que vive trancado num “palácio” sem saber a verdade sobre o pai, reconta sem filtros morais o que presencia ou conhece pela boca dos empregados ou pela tevê. Seu passatempo é investigar secretamente os mistérios que entrevê, colecionar chapéus e palavras difíceis e pesquisar sobre samurais, reis da França e animais em extinção, sempre com o auxílio de seu preceptor - um escritor fracassado egresso da esquerda.Esse pequeno príncipe, tão mimado quanto privado de infância, tem um desejo obsessivo: completar seu minizoológico particular com o raríssimo hipopótamo anão da Libéria. Reveses nos negócios paternos e a conveniência de o grupo abandonar o México por um tempo acabam tornando realidade o safári para capturar o tal hipopótamo em risco de extinção.A viagem à África com seus percalços e o regresso ao “palácio” constituem a grande iniciação do narrador-protagonista, a quem só na última linha é dado chamar o pai de “pai”. Festa no covil é surpreendente também no seu percurso editorial: seus originais chegaram à editora espanhola Anagrama sem as indicações de praxe nem a chancela de concursos literários, caindo nas graças de Jorge Herralde, o mais respeitado editor do mundo hispânico. Publicado em junho de 2010, logo começou a receber os mais veementes elogios dos principais suplementos e revistas culturais de ambos os lados do Atlântico.
Festa no Covil é narrado por uma criança, um menino que é filho de um chefe do narcotráfico mexicano e pelos olhos dela que vamos descobrindo como é que é o dia-a-dia do local e como que é feita a sua criação peculiar, em que ele só conhece 14 pessoas e é ensinado dentro de casa, sem sair para lugar nenhum.
O menino não tem idade definida, mas é inteligente e tem uns hobbies bem criativos para quem tem uma visão de mundo muito fechada e específica - ele vive entre liberdades do tipo e também ser repreendido em coisas simples para não ser um “maricas” -, além de ter uma voz bem de alguém que se acha o maioral ao usar palavras que aprendeu o significado recentemente, que reflete muito ao estilo do seu pai e a vida do narcotráfico que é comum para ele.
"Uma das coisas que aprendi com o Yolcaut é que às vezes as pessoas não viram cadáveres com uma bala. Às vezes precisam de três balas ou até de catorze. Tudo depende de onde você atira. Se você atira duas balas no cérebro, com certeza elas morrem. Mas você pode atirar até mil vezes no cabelo que não acontece nada, apesar que deve ser divertido de ver."
Acho que a história anterior que eu tinha lido que é narrada por criança, mas que também não era algo com um tom mega infantojuvenil foi How do You Live?, um clássico japonês de Genzaburo Yoshino e aqui eu relembrei como é um refresco acompanhar histórias narradas por crianças, pela lente do tipo de coisa que acaba se tornando natural e comum, e no caso de Festa no Covil dá para ver o sarcasmo pela situação escorrendo pela página.
Autora: Maria José Ferrada
Tradução: Elizabeth Bryer
Editora: Tin House Books
Páginas: 170
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse: Unidos por um catálogo de produtos de serralheria da marca Kramp e viagens num Renault velho por estradas, povoados e cidades, uma filha cresce ao lado de seu pai, caixeiro-viajante, a aprender ensinamentos sobre o mundo e vida. Da infância à adolescência, M narra seus aprendizados e o correr dos anos, até o evento que marca uma ruptura na família, acionando o dispositivo dos sintomas parentais e outras rupturas e mais questionamentos sobre o universo e as peças que não se encaixam, as dores desparafusadas que se acumulam, e o revelar das engrenagens discretas do afeto rangendo no crescer da sua maturidade.Nas viagens com o pai, D, e o consequente reacender da vida da mãe em casa, após um assombrar violento do passado, M percebe, ainda adolescente, que os mecanismos das Coisas no Mundo avançam com giros imprecisos, impossíveis para cálculos e categorias, e começa assim a aceitar perguntas inclassificáveis no maquinário das perdas e do tempo, em revelações de que infortúnios tidos improváveis podem transformar construções familiares sólidas em "um monte de palitos".Ao voltar do livro, um dos caminhos mais difíceis e também confortáveis da viagem, vivenciamos com M o despertar para as precariedades de uma família a sofrer o desvanecimento de suas relações, e entendemos um dos mecanismos da existência ("um único parafuso pode precipitar o fim do mundo") e que muito do que resta nesse sistema de sobrevivência até o futuro é estranho, mas também revelador.Raimundo Nonato, escritor e psicólogo
O livro acompanha os relatos de uma jovem, a M, alguém que desde menina acompanhava o pai, chamado de D, no trabalho dele como um caixeiro viajante que vende produtos da marca Kramp, uma marca de produtos de serralharia.
Com capítulos super curtos vamos conferindo o dia-a-dia dela aprendendo com os maneirismos do pai na estrada para conseguir mais vendas e começando a questionar o papel da mãe na própria vida, em que era uma figura tão afastada que nem notava que a menina faltava à escola para acompanhar o pai.
Nessa história nenhum personagem tem um nome completo, suas características físicas fora a idade de M não são mencionadas e existem poucos elementos que te direcione para uma época específica que How to Order the Universe se passa (os melhores indicativos são o papel do cinema), dando uma abertura para enxergar que essa história pode ter se passado em qualquer lugar do globo.
Porém segundo pesquisas é uma história que se passa durante a ditadura do Pinochet no Chile (país de origem da autora) e só mais para frente na história quando ocorre um acidente que afeta as relação de pai e filha que fica mais claro a situação política e econômica que está a região de onde eles vivem.
How to Order the Universe é uma história de amadurecimento em que primeiramente vamos acompanhando os acontecimentos incomuns sendo narrados pela protagonista com naturalidade e conforme ela vai ficando mais velha vamos recebendo também uns questionamentos do porquê daquilo conforme ela entender melhor o mundo ao redor.
6 Comentários
Fiquei com vontade de ler
ResponderExcluirOk :)
ExcluirThanks for the review. Have a great day!
ResponderExcluirxoxo
Lovely
www.mynameislovely.com
Thank you, xo!
ExcluirAmei as opiniões de ambos os livros. Eu gosto muito desse olhar infantil na história, em épocas em que tem algo maior acontecendo por trás e a criança não consegue processar ainda.
ResponderExcluirUma dica de autora latina que te recomendo é a Teresa Cárdenas, no Carta para a minha mãe também é narrado por uma criança.
Beijos
https://www.dearlytay.com.br/
Obrigada pela dica!! Acabei de ver que ela é cubana e ainda não li nenhuma de obra de lá esse ano ainda!
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